REVISTA ZONA DE IMPACTO. ISSN 1982-9108, VOL. 11, JAN-JUN, ANO XI, 2009. 

 

O TRANSPORTE DE GÁS NATURAL PARA PORTO VELHO



ARTUR DE SOUZA MORET



Resumo: Este artigo tem por finalidade expor o transporte, as conversões energéticas, os seus usos e as relações de mercado, como estas são compreendidas como fatores estruturantes da sociedade, influenciando os aspectos sociais, econômicos, políticos e ambientais. A teoria da dependência é fundamental nessa discussão. A energia e toda a sua cadeia são produtos vinculados ao mercado internacional, com significativa concentração e influência econômica, decorrentes, do tamanho e do pequeno número de empresas proprietárias da fonte, da transformação, dos estudos e das metodologias de prospecção e da comercialização. E o desenvolvimento nomeado como Sustentável e compreendido como atendimento às necessidades ambientais e de desenvolvimento das gerações presentes e futuras.

Palavras-chave: Transporte, Energias, Dependência e Sociedade.

Abstract: this article has for purpose to expose the transport, the energy conversions, your uses and the market relationships, as these are understood as factors estruturantes of the society, influencing the aspects social, economical, political and you adapt. The theory of the dependence is fundamental in that discussion. The energy and all your chain are products linked to the international market, with significant concentration and influence economical, current, of the size and of the small number of companies landladies of the source, of the transformation, of the studies and of the search methodologies and of the commercialization. And the nominated development as Maintainable and understood as attendance to the environmental needs and of development of the present and future generations. 

Key-words: Transport, Energies, Dependence and Society. 

 

            Referenciais balizadores de análise
            Nesse texto as relações entre a energia e toda a sua cadeia - combustíveis líquidos e gasosos, vapor de processo, as fontes de energia (os domínio, os estudos de prospecção e as relações de domínio e de poder), o transporte, as conversões energéticas, os seus usos e as relações de mercado- são compreendidas como fatores estruturantes da sociedade, influenciando os aspectos sociais, econômicos, políticos e ambientais. Todas as atividades na sociedade são resultados e resultantes dessas relações (mercado, econômicas, sociais e ambientais) e que não podem estar vinculadas unicamente aos seus benefícios, mesmo porque o volume de recursos gerados por um consumo quase sempre garantido e crescente e as funções cruciais dos motores, máquinas, da iluminação e dos demais conversores de combustíveis e de eletricidade, faz destes setores, um dos campos preferenciais da interferência política, desde os níveis locais até aos internacionais (MORET, 2000).
            A teoria da dependência é fundamental nessa discussão. A energia e toda a sua cadeia são produtos vinculados ao mercado internacional, com significativa concentração e influência econômica, decorrentes, do tamanho e do pequeno número de empresas proprietárias da fonte, da transformação, dos estudos e das metodologias de prospecção e da comercialização. Portanto o seu uso fica condicionado às regras do mercado se traduzindo num sério estrangulamento, pois quem não está inserido nesse não tem acesso, entretanto ainda fica dependente 1 desse bem social por conta dos conversores energéticos2. A visão que referencia esse texto é que a energia é um bem social e que deve estar a serviço de um desenvolvimento mais justo e para todos.
            Esse Desenvolvimento é nomeado como Sustentável e compreendido como “(o privilégio ao) atendimento às necessidades ambientais e de desenvolvimento das gerações presentes e futuras, ... (eliminando) os sistemas de produção e consumo não sustentáveis; (promovendo) políticas demográficas apropriadas..., (erradicando) a pobreza como requisito imprescindível do desenvolvimento sustentável, de modo a reduzir as disparidades nos níveis de vida e atender às necessidades da maioria da população mundial...” (BARBIERI, 1997).
            As concepções balizares de análise do presente texto estão sistematizadas a seguir:
            As iniciativas visando o desenvolvimento devem estar ancoradas nas ações de longo prazo e sustentáveis, no uso dos recursos naturais de forma sustentável, promovendo a equidade e o respeito às diferenças sociais.
            Os reparos aos danos sociais e ambientais não podem ser realizados com medidas paliativas e sim com políticas públicas.
            As atividades econômicas da sociedade, inclusive as tradicionais e indígenas, devem ser respeitadas e preservadas.
            O empreendimento em questão, gasoduto Urucu-Porto Velho, é entendido como um mecanismo para o processo de eletrificação regional, dos estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Mato Grosso, influenciando eventos energéticos, econômicos, ambientais e políticos.
            Amazônia e as perspectivas centralizadas de geração de energia As iniciativas com vistas ao desenvolvimento introduzidas no contexto amazônico refletem (refletiram) o contexto geral da economia de concentração econômica, de renda, de capital, de terras e de poder; aí se enquadra a questão energética, pois a geração centralizada de energia concentra renda (FURTADO e GOUVELLO, 1989).
            Os empreendimentos energéticos levados a cabo na região refletem essas características, pois não contemplam as expectativas das sociedades locais e das populações tradicionais, como exemplo pode-se explicitar alguns empreendimentos a seguir. i- construídos: UHE (usina hidrelétrica) Tucuruí, UHE Samuel, UHE Balbina, UTE (usina termoelétrica)- produtor independente de eletricidade (PIE) em Manaus e Porto Velho e o gasoduto Urucu- Coari; ii- planejados: UHE Ji-Paraná, UHE Belo Monte (nomeada anteriormente como Kararao), duas UHE no Rio Madeira e os gasodutos Coarí-Manaus e Urucu-Porto Velho.
            As modificações ocorridas no modelo do setor elétrico está introduzindo alterações significativas na matriz energética intensificando o uso dos combustíveis fósseis e na concentração da geração. No caso de Rondônia, a geração térmica passa de 41,6% em 1999 para 67,2% do total em um futuro próximo. Essa trajetória mono – tecnológica é estendida que a opção Diesel- eletricidade ou termelétricas fóssil dependente são as únicas opções indicadas para a geração de eletricidade no Estado de Rondônia. Essa opção não considera que o uso desse combustível não diminui as disparidades regionais, por outro lado agrava, porque é um mecanismo de escoamento de recursos da localidade. No que tange à concentração da geração de eletricidade esse valores, variam de 72,7% para  84,8% do total da geração no estado (quadro 1).
            Quadro 1: Participação da geração centralizada, descentralizada e térmica em RO

 

Térmico  (%)

Descentralizado (%)

Centralizado (%)

1999

41,6

27,1

72,7

2002

48,2

24,1

75,7

Futuro

67,2

15,2

84,8

Fonte: Ceron, 2002

            Essa concentração está relacionada diretamente ao combustível gás natural, como afirma o texto a seguir. “O gasoduto Urucu-Porto Velho vem ajudar no suprimento de gás natural em parte da Região Amazônica, em substituição aos óleos combustíveis hoje utilizados, permitindo atender a carência de energia elétrica em algumas cidades do estado do Amazonas próximas ao Rio Madeira, em Porto Velho e em outras cidades de Rondônia. Prevê-se que a capacidade de transporte do gasoduto em foco será capaz de suprir as necessidades nas regiões citadas por um período de pelo menos 20 anos.” (PETROBRÁS, 2001)
            A região Amazônica foi (e será) palco de grandes negócios para a expansão do capital, através da concentração de recursos financeiros, de terras, de capital e de poder. A justificativa que vem sendo utilizada é a de que é necessário desenvolver, entretanto os resultados obtidos através de indicadores sociais não têm sido positivos. Dois exemplos para Rondônia são explicitados a seguir, i- o atendimento de Eletricidade: no Estado 48%, em Porto Velho 69%, em Guajará Mirim 62%, em Ji-Paraná 60%, em Monte Negro 24%, em Machadinho 23% e em Pimenteiras 19%, que são índices baixos considerando a importância social da disponibilidade de eletricidade. Para o atendimento de água os valores ainda são mais complicados: 31 % do Estado e que representa 961.740 habitantes sem água encanada e tratada, ainda há 48 dos 52 municípios com menos de 50% de atendimento (quadro 2). Por outro lado, 37,9 mil residências- 11% dos domicílios- do Estado ou 151 mil pessoas ainda não tem banheiro. (IBGE, 2002)
Quadro 2: Relação entre percentual e quantidade de cidades atendidas por água encanada em RO

 

0-10%

11-20%

21-30%

31-40%

41-50%

51-60%

Acima de 61%

Num. de cidades

22

09

07

07

03

02

02

Fonte: IBGE,2002

            Dessa forma, a disponibilização de recursos3, foi e é a tendência da Amazônia e portanto não são suficientes para se chegar a um desenvolvimento sustentado. Também, aliados a indústrias energo-intensivas, madeireiras e mineradoras têm justificado a implementação de infra-estruturas (estradas, gasodutos, hidrelétricas e linhões) para viabilizar as empresas por um lado e a exploração dos recursos por outro (VERÍSSIMO et alli, 1999 e SEVÁ FILHO, 1988). Essas ações4 ao serem analisadas pela ótica do desenvolvimento econômico tradicional têm como resultado o fracasso, mais graves ainda são os resultados caso a interpretação seja realizada tendo como referência o Desenvolvimento Sustentável, especificando a geração de emprego e renda (MORET, 2002), a melhora da qualidade de vida e o uso dos recursos naturais de forma sustentável5.
            Os empreendimentos energéticos em Rondônia: planejados, concluídos e impactantes
            Em relação ao estado de Rondônia, se pode especificar vários empreendimentos planejados: algumas UHE em áreas próximas ao Estado6: Ji-Paraná- 512 MW, Teotônio- 3.500 MW, Salto Girau- 3.500 MW (ELETRONORTE, 1996). Entretanto, há também uma tendência de mudança significativa na matriz energética, na geração7 de uma base hidráulica para termelétrica8. Para essa opção se realizar serão necessários investimentos: em  infra-estruturas, em formação técnica e no deslocamento de combustível líquido e gasoso; no que tange aos combustíveis, os deslocamentos serão significativos, visto que se forem líquidos a refinaria mais próxima está  localizada na cidade de Manaus, se forem gasosos a bacia mais próxima é a do Solimões no estado do Amazonas.
            O modelo mais provável que se aplica em Rondônia será híbrido, uma parte hidrelétrica com potência instalada de 216 MW da UHE Samuel (potência firme de 70 MW, que é o valor contabilizado como efetivamente utilizado dessa hidrelétrica) e poucas PCH`s e 404 MW térmicos do PIE Termonorte do Brasil; já estão instalados 64 MW operando com Diesel e em fase de implantação mais 340 MW com Turbinas a gás, inicialmente operando com Diesel e posteriormente  com gás natural. A Eletronorte tem operacional mais 100 MW de potência instalada com turbinas a gás, também utilizando Diesel com combustível.
O gasoduto Urucu-Porto Velho
            A bacia gasífera do Solimões tem  potencial de 60 bilhões de m3 (mais 35 bilhões de m³ nas bacias próximas). O empreendimento energético, gasoduto Urucu-Porto Velho, tem como produto o transporte de combustível gasoso, gás natural, com 522 km  de extensão, cortando a floresta amazônica, desde a bacia gasífera de Urucu até a cidade de Porto Velho, passando pelos municípios de Coari, Tapauá e Canutama no Amazonas e Porto Velho em Rondônia. Esses empreendimentos devem atender o sistema elétrico Acre-Rondônia. Esse primeiro estado receberá a energia elétrica através de linha de transmissão (LT) de 230 KVA com extensão de 550 km.
            Esse gasoduto através de florestas9 pode causar impacto social significativo nas cidades próximas na fase de construção, gerando expectativa de emprego e vida melhor, contudo, ao término, o local voltará a ter a mesma atividade econômica, porém com a população aumentada e com conseqüência, aumento de prostituição e com aumento de doenças. Também com ocorrência de impactos ambientais, com derrubadas de floresta, na diminuição do pescado, na contaminação das águas para a produção de farinha (GAWORA, 2003). Depois de construído a faixa de servidão poderá ser utilizada para a entrada de exploradores de recursos naturais e de ligação entre a Br. 319 e a Transamazônica, o que se constituiria numa interligação direta entre Porto Velho e Lábrea. Ressalta-se que a construção do gasoduto Urucú –Coari introduziu modificações significativas na dinâmica social da cidade, sem, contudo levar ganhos de qualidade de vida às populações locais; mais visíveis foram aqueles ocorridos na Vila Lira na cidade de Coari (GAWORA, 2001).
Questão geopolítica: implicações e reflexões iniciais sobre os possíveis empreendimentos energéticos na região
            As ações no Estado em Rondônia estão atreladas à visão geopolítica estruturante regional em várias vertentes, a seguir algumas delas: i- interligação e inter-relação dos mercados da Amazônia aqueles do centro sul; ii- escoamento da produção através da Amazônia aos mercados internacionais; iii- a interligação energética com o centro sul através dos recursos energéticos, dos combustíveis e dos recursos hídricos; iv- o aumento da área para a soja através de crescentes desmatamentos. Nessa visão, Rondônia é estratégico, pois a infra-estrutura, necessariamente, deve passar fisicamente pelo Estado, necessitando assim na criação de um ambiente propício.
            No que tange a interligação energética- combustível, energia e eletricidade- de Rondônia ao centro Sul, através de vários empreendimentos e que são analisados a seguir (quadro 3), tendo como referência a compreensão de que esse eventos são intervenções redefinidoras regionais dos nós de eletrificação10 (MORET, 2000) que se aplicam e se reproduzem.
            Quadro 3: Eventos energéticos e as proponentes

Evento

Descrição

Proponente

0

gasoduto Urucu-Porto Velho

Petrobrás

1

duas UHE no Rio Madeira totalizando 7000 MW

Furnas

2

UHE JI-Paraná com 512 MW

Eletronorte

3

linha de transmissão (LT) PVH-AC com 550 km

Eletronorte

4

gasoduto Camiséa no Peru para o Brasil

Britsh Petroleum

5

o gasoduto Urucú- Porto Velho- Cáceres

Petrobrás

6

LT Vilhena-  Mato Grosso com interligação ao SIN*

Eletronorte

7

Geração de energia elétrica em Rio Branco

Outro PIE

           

Fonte: Moret, 2003-elaborado para esse texto;* Sistema Interligado Nacional

            Conseqüências e análises: primeiras reflexões sobre os nós de eletrificação redefinidores regionais
            - o evento 0 é o definidor regional, pois se concretizando as outras intervenções podem ocorrer;
            - o evento 3 já está quase operacional e deve proporcionar um deslocamento das máquinas geradoras de Rio Branco/ AC para Porto Velho e esse se tornando um centro de geração;
            - faltam apenas algumas centenas de km (entre Pimenta Bueno/RO e Cáceres/MT) para a efetivação do evento 6. A consequência principal será o aumento do custo da eletricidade para o consumidor final pelo encerramento da aplicação da Conta de Compensação de Combustível (CCC) que subsidia a geração Diesel nos sistemas isolados;
            - daí será necessário ocorrer o evento 1, pois se estará equacionado o escoamento da eletricidade  para o centro-sul;
            - daí é necessário ocorrer o evento 2, pois para o SIN operar otimizadamente será necessário ter uma base de geração intermediária, como Porto Velho o será para o Acre;
            - os eventos 4 e o 5 são consequência para mediar o custo do gás boliviano; o evento 5 será a interligação entre do Urucu-Porto Velho com o gosoduto Boliviano e o evento 4 passará por Rio Branco/ AC e em Porto Velho, a seguir poderá seguir dois caminhos, um no sentido sul para Cáceres e outro no sentido de Manaus- a capacidade dessa bacia é maior que a do Solimões e em torno de 400 bilhões de m3;
            - como Acre será o final de linha do SIN será necessário implantar uma geração de energia com o gás de Camisea em Rio Branco (7) para equilibrar o sistema, entretanto com a interligação com PVH (3) será necessário deslocar máquinas da Eletronorte dessa cidade, portanto se tornando necessário ocorrer mais um evento importante que é a implantação de mais um Produtor Independente de Eletricidade (PIE) privado.
            Conflitos sócios- econômicos e ambientais: novos elementos para a reflexão e o debate
            Os impactos ambientais, sociais e econômicos da construção desse gasoduto tornam o tema conflito como um campo importante de reflexão cietífica. Entende-se que esse se agudiza através da percepção dos diversos atores sobre a natureza do desenvolvimento a ser implantado no Estado, por um lado a reprodução do modelo em que esse se firma no uso intensivo de hidrocarbonetos (combustíveis fósseis), por outro a percepção de que esse deve se dar através da energia como fator de qualidade de vida intensificando o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) que é uma base importante para se chegar ao Desenvolvimento Sustentável (MORET,2001).
            Nascimento (2001) destaca que é necessário referenciar algumas questões, que ele as nomeia como “os elementos definidores do conflito”, para a compreensão e solução do conflito, quais sejam: os atores, a posições dos atores, os campos de conflito, os objetos de disputa, o histórico e a dinâmica do conflito, as fases, a formas de comunicação, os principais nós a serem tratados, as estratégias de negociação e os planos de negociação.
            Repertório de alternativas de suprimento energético para o Estado de Rondônia: conciliação de interesses para o Desenvolvimento Sustentável
            As alternativas de suprimento energético para o estado de Rondônia, em contraposição ao uso do gás natural a partir do empreendimento gasoduto Urucu-Porto Velho, tem a premissa principal baseada no uso de fontes de energia mais limpas e da eficiência energética, pois: produzem impactos positivos na qualidade de vida da população do Estado, diminuem o uso de combustíveis fósseis e a consequente emissão de poluentes, aumentam a confiabilidade do sistema elétrico estadual, aumentam a oferta de energia descentralizada e alteram positivamente a qualidade de vida pelo uso de fontes energéticas locais. (MORET e SEVÁ FILHO, 2002, a e b)
            As oportunidades de utilização de combustíveis  e  de  tecnologias para a geração de eletricidade para o Estado de Rondônia passam por aproveitamento dos resíduos agrícolas, dos resíduos da indústria madeireira, do aproveitamento dos potenciais hídricos para as PCH`s (pequena central hidrelétrica) e MCH`s (micro central hidrelétrica), da conservação de eletricidade, da co-geração de energia e do transporte de gás natural de outras bacias gasíferas que não somente aquela do Solimões.
            A seguir são sistematizadas sete alternativas energéticas potenciais para o Estado de Rondônia, a partir de fontes locais e renováveis e implantação de tecnologias inovadoras e disponíveis.
            i- agregar 50 MW dos 100 MW instalados da Eletronorte na Capital Porto Velho através do aproveitamento termodinâmica do gás de exaustão da turbina a gás (TG), que é uma tecnologia nomeada por Ciclo Combinado (CC), conferindo aumento de potência da ordem de 50% da capacidade instalada da TG;
            ii- agregar 25 MW dos 50 MW em turbina a gás do parque gerador de Rio Branco através de ciclo combinado;
            iii- agregar 25 MW através do uso das 78,7 mil toneladas de casca de arroz (1996) que poderiam gerar entre 46 GWh/ano e 92 GWh/ano, com eficiência variando entre 15 e 30 % (COELHO et alli, 2000);
            iv- agregar 161 MW através do uso das 555,3 mil toneladas de milho (1996), com eficiência variando entre 15 e 30%, que poderiam gerar entre 290,5 GWh/ano e 581,1 GWh/ano (COELHO et alli, 2000);
            v- agregar 190 MW com resíduos do processo das indústrias madeireiras, considerando: ciclo de vapor (parâmetros médios de 20 kgf/cm2 e 350o C), eficiência de 18%, poder calorífico inferior (PCI) de 14.000 kJ/kg e densidade 400 kg/m3 (MORET,2000) ;
            vi- agregar 184,6 MW do potencial de PCH`s (ELETRONORTE, 1996 e SINDUR, 1999);
            vii- agregar 25 MW a partir da substituição de lâmpadas incandescentes por compactas fluorescentes no setor residencial (MORET 1996).
            As iniciativas destacadas acima podem proporcionar impactos significativos no sistema elétrico do Estado de Rondônia, nos seguintes pontos: i- no que tange à dispersão espacial da geração de energia, proporcionando a descentralização por utilização das fontes locais; ii- em relação à mudança na matriz energética pela diminuição e substituição do uso de combustíveis fósseis; iii- e no que se refere ao valor potencial de oferta de 660 MW, maior até que os 517 MW do potencial instalado no  estado de Rondônia.
            A guisa de considerações finais
            As proposições oficiais para o atendimento energético do Estado de Rondônia denotam a falta de um planejamento energético adequado a realidade do Estado e de uma visão de desenvolvimento mais equilibrado e com menos impactos ambientais. No que tange a utilização do gás natural para a geração de energia surge uma importante questão:  qual é o uso estratégico para esse combustível? sabe-se que a geração de energia é apenas uma oportunidade de negócio, visto que são atrativos os valores de venda da energia e que esses são resultantes dos fortes subsídios públicos nesse tipo de geração. Por outro lado, compreende-se que o gasoduto Urucu-Porto Velho é uma intervenção redefinidora dos nós de eletrificação regional e que estão conectados a geopolítica e aos eixos de desenvolvimento (ELETRONORTE, 1998). 
            Compreende-se que a repetição desse tipo de evento na região Amazônica introduz conflitos sócio-ambientais irreconciliáveis, pois essas intervenções reproduzem modelos já experimentados e que caminham na direção oposta de um desenvolvimento mais equilibrado para a Amazônia.
            Dessa forma, as ações do poder público devem ser no sentido do Desenvolvimento Sustentável, primando pela descentralização das decisões e das ações, geração de emprego e renda, uso dos recursos naturais de forma sustentável e diminuição do consumo de combustíveis fósseis, a partir da adoção de políticas públicas e também da busca por eficiência energética dos sistemas, das tecnologias e das metodologias e do uso das energias alternativas.
            A análise realizada do empreendimento de transporte de combustível gás natural da bacia gasífera do Solimões/Urucú até a cidade de Porto Velho, com o objetivo gerar eletricidade, não se constitui em alternativa sustentável para  a geração de energia para o Estado de Rondônia, pois alia vários fatores negativos: geração centralizada de energia, geração de energia com combustível fóssil e impacto sócio-ambientais. Portanto, pode ser substituído por aquelas alternativas mencionadas trazendo menos riscos à sociedade e ao meio ambiente, e, sobretudo contribuindo para um melhor uso dos recursos energéticos, naturais da região Amazônica e não aumentando os impactos ambientais e sociais sobre a floresta amazônica.

BIBLIOGRAFIA

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1.Essa concepção de dependência se agudiza quanto maior a distância entre os centros produtores e os consumidores, como exemplo em localidades distantes, pouco populosas e baixa produção.

2. Motor, equipamentos elétricos, fogão, televisão, moto-serra, moto-bombas.

3. Os empreendimentos mais recentes, e não menos impactantes, têm como referência o Plano Avança Brasil do Governo Federal, no qual grandes obras estão sendo planejadas e algumas já operando. Um estudo recente do INPA (Instituto de Pesquisas da Amazônia) mostrou que se esses empreendimentos se concretizarem os danos ambientais e sociais na Amazônia serão significativos, culminando em desmatamento resultante de aberturas de estradas, aumento da área destinada à soja e à pecuária e outros.

4. Usinas hidrelétricas de Tucuruí, de Samuel, de Balbina com alagamento de grandes áreas e deslocamento de contingente populacional tradicional e indígena, o Projeto Jari, produzindo danos ecológicos, culturais e econômicos sem precedentes. O mais grave é que a justificativa para tais empreendimentos é de que muitos serão beneficiados em detrimento de poucos.
Grandes estruturas viárias foram construídas para ”integrar para não entregar” ocasionando danos significativos e duradouros ao meio ambiente e para aqueles que lá viviam. Por outro lado, uma parte dos que se deslocaram para essas localidades foram abandonados a sua própria sorte.
Graves, também, são as ameaças que os agentes das empresas fazem ao justificar um determinado empreendimento, pois se assim não for, outro pior poderá ser construído; no caso do Estado de Rondônia, qualquer empreendimento energético que é questionado, como os PIEs operando com óleo Diesel, os agentes justificam-no  que se não se realizar a UHE Ji-Paraná poderá ser revigorada.

5. Entende-se que esses empreendimentos podem causar danos sociais, ambientais e culturais significativos, aumentando a leva de migrantes para as cidades contribuindo para a favelização, aumentando os sem terra, os sem teto e os excluídos socialmente.

6. Há modificações significativas na geração de energia elétrica, pois segundo o modelo ainda em vigência, o Estado (a empresas estatais federais e estaduais) não podem mais aumentar a oferta de eletricidade, se criando assim a figura do PIE- Produtor Independente de Eletricidade, que normalmente são grandes empresas de capital internacional que desejam aumentar sua participação num mercado crescente e atrativo, pois os contratos são sobremaneira benéficos a esses. Essa mudança tem trazido grandes problemas de ordem ambiental, pois essas não atendem plenamente as legislações ambientais. Em Rondônia a instalação de um PIE em 2000 não obedeceu a legislação ambiental, não obtendo no prazo as licenças e em poucas semanas em operação derramou uma quantidade significativa de óleo num igarapé próximo da planta (MORET, 2001).

7. A opção por termeletricidade é baseada no gás natural  por opção estratégica do governo, para a região amazônica foi baseada num acordo entre a Eletronorte (Empresa Federal responsável pela geração e transmissão na Amazônia) e a Petrobrás, no qual ficou acertado que não seria construída  nenhuma média ou grande hidrelétrica na Amazônia unicamente para viabilizar  mercado para esse combustível.

8. A área do empreendimento tem riqueza natural não mensurável e habitada por populações tradicionais e Índios. De forma que, esse mais uma vez (como aconteceu no passado com empreendimentos de infra-estrutura), pode representar uma reprodução do modelo já experimentado anteriormente na região com danos significativos ao meio ambiente e à sociedade, através da disponibilização de  recursos naturais para exploração do capital.

9 Essa figura de linguagem representa as gerações e os atendimentos elétricos.

10. Uso dos resíduos de madeira (1997), que segundo a estimativa de Coelho et alli (2000)  a energia gerada seria na faixa de 126,4 e 252,8 GWh/ano, dependente da eficiência (15 e 30%) e tecnologia.